quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Chave do Perdão

Era um jovem cheio de idéias, um empreendedor. Acreditava que poderia ficar rico e para realizar seu sonho, fez um grande empréstimo. Todavia, à medida que o negócio crescia suas dívidas, também, aumentavam. Não adiantava a esposa dizer que tivesse cuidado com tantas dívidas, ele acreditava que sabia o que estava fazendo! E, realmente, parecia que estava prosperando.

Um dia descobriu que, embora estivesse crescendo, precisava de mais dinheiro. Suas dívidas já eram muito grandes, mas ainda assim, resolveu procurar o homem mais rico da cidade, um poderoso rei, e lhe pediu um empréstimo. Apresentou seus planos, ofereceu como garantia tudo o que possuía, pois tinha certeza de que conseguiria liquidar em pouco tempo aquele débito. Mas as coisas não aconteceram como ele esperava. Muitas coisas deram erradas, sua dívida cresceu além de sua capacidade de pagamento. Já não tinha o mesmo ar confiante. Irritava-se com os filhos frequentemente, não conseguia mais dar atenção à esposa. Esta reclamava que não recebia atenção do marido e os filhos, por sua vez, reclamavam que o pai só andava de mau humor. Perdeu o apetite e o sono. Sua vida estava um caos. Tudo o que pensava era como poderia saldar aquele compromisso. Uma das questões mais sensíveis nos relacionamentos modernos refere-se a finanças: dificuldade financeira uma das principais causas de problemas conjugais.

Um dia, recebeu um mensageiro que o fez ir à presença de seu credor. Suava frio! Diante da exigência do pagamento de sua dívida, ele teve que reconhecer o fracasso de dizer que não tinha como pagar. Nunca se sentira tão mal, pensava. Mas as palavras seguintes do credor foram mais difíceis ainda. Ele ordenou “que fossem vendidos ele, sua mulher, seus filhos, e tudo o que tinha, e que se pagasse a dívida” (Mateus 18:25). Descobriu que esse problema ia afetar toda a família. Somente ele era o responsável por aquela situação e, agora, toda a família experimentaria as conseqüências de seu erro. Ele se humilhou como nunca. Algo aconteceu naquele momento, ele recebeu o perdão de sua dívida! Estava livre daquele tormento dali para frente. Poderia retomar sua jornada ascendente, poderia dar tempo para a família e os negócios com a mesma força e empenho de outros tempos, quando ainda não tinha uma dívida absurda para administrar.

Estava radiante. Contava os minutos para chegar a casa e relatar para a sua esposa as boas novas. Todavia, ainda no caminho, não soube lidar com a liberdade que o perdão lhe proporcionara. Encontrou alguém que lhe devia alguns poucos reais. Ao invés de oferecer-lhe o mesmo perdão que experimentara, agiu com extrema dureza e arrogância, chegando mesmo a sufocar a pessoa com as mãos, tamanha era a ira com aquele homem que estava demorando em saldar o compromisso firmado.

Como a pessoa não tinha como pagar, o jovem lançou-o na prisão, com a condição de que deveria permanecer lá até que pagasse o montante devido. Finalmente chegou ao lar. A boa notícia do perdão ficou sufocada pelo desgosto daquele desagradável encontro.

Algumas pessoas que presenciaram a cena reclamaram ao rei da severidade com que o jovem tratara alguém que tinha uma dívida tremendamente menor do que aquela que o rei lhe perdoara. Novamente o rei o chama. Desta vez ele vai cheio de si, sem imaginar o que lhe reservava.

Ouve duras palavras e, por seu comportamento, o rei revoga o perdão e o leva à prisão, deixando a família desguarnecida de sua presença (Leia o relato em Mateus 18:23-35). Embora o foco de Cristo nesta parábola seja o perdão, ela também ilustra uma grande verdade: nossos atos influem na dinâmica familiar. Não é possível entendê-la sem compreender a vastidão dos contextos que podem influir na ordem familiar. Nesse caso, o problema econômico gerou uma desagregação familiar, primeiro quase escravizando todos os membros da família depois, gerando uma separação. E isso acontece ainda hoje. Claro que não só as dívidas, mas a perda da saúde de um dos membros, o luto, a interferência de parentes, a insegurança, o acesso à educação e oportunidades de emprego e renda, a cultura, a religião, etc., podem interferir na dinâmica familiar, positiva ou negativamente.

Mas diante de todos esses problemas, o perdão é o elemento chave na regulação dos relacionamentos. O perdão viabiliza nossos relacionamentos imperfeitos, em um mundo imperfeito, em meio a circunstâncias imperfeitas. Precisamos constantemente de libertação e reconciliação.

De fato, precisamos de perdão em cada momento de nossa vida, mas precisamos muito mais conceder perdão às pessoas que nos causam mágoas. É ele que nos permite avançar, sem estarmos presos àquelas situações que nos magoaram. Um pai que abandonou um filho, um esposo, um amigo, etc., pessoas importantes para nós, das quais jamais esperamos certos comportamentos. Quando estes traem nossas expectativas surge a mágoa, e ela passa a estar presente em nossa vida. Há pessoas que, apesar de decorrido muito tempo, ainda sentem a dor emocional no mesmo nível de quando o problema ocorreu.

Nos últimos anos tem crescido o número de psicólogos e profissionais da saúde que têm reconhecido a importância do perdão para a saúde emocional e física. De tema religioso passou também a ser tratado como uma questão de saúde. Um estudo realizado pelo Centro Médico da Universidade Duke demonstrou que indivíduos com problemas crônicos nas costas sentem menos dores quando conseguem perdoar as pessoas que as magoaram, além de experimentarem menos problemas psicológicos, como o ódio e depressão, que aqueles que não perdoaram. Um outro estudo da Universidade Estadual de Idaho, ligou o perdão a uma baixa na pressão sanguínea e no nível de cortisol (resultante de uma resposta do corpo ao estresse e enfraquecimento do sistema imunológico) a partir de um grupo de 98 pessoas de camada social e econômica média e baixa e que buscou ser o mais heterogêneo possível em termos raciais.

"O perdão é um recurso psicológico e social que regula as relações humanas." (John Berecz). Não perdoar é manter o papel de vítima, que não permite o crescimento. É manter a raiva, mágoa, o rancor, pois mantém uma situação do passado, que influencia o presente e compromete não só o futuro, mas as relações de maneira geral, fazendo com que os laços afetivos que os une enfraqueçam. Geralmente as pessoas com dificuldade de pedir perdão ou perdoar, tendem a ser rígidas, inflexíveis, críticas com o outro e, principalmente, consigo mesmas. É o perdão que permite que um casamento e que uma amizade tenham continuidade depois de um conflito, ou que as relações de trabalho sobrevivam em meio aos desentendimentos que costumam ocorrer em ambiente profissional.

Jesus nos traz algumas lições práticas para entendermos o perdão:

1) Quem não compreende a dimensão do perdão que Deus concede, nunca aprenderá a perdoar.

2) O que de graça recebemos de graça devemos conceder! A chave para o verdadeiro perdão é deixar de focalizar o que os outros nos fizeram, e começar então a olhar para aquilo que Deus fez e faz por nós.

3) Quem perdoa coloca as pessoas em primeiro lugar. É preciso diferenciá-las das coisas ou de suas ações. Os relacionamentos devem estar em primeiro lugar. Não é porque seu filho fez algo que você não gostou que ele não pode mais ser amado! É justamente aí que ele mais precisa do seu amor, até mesmo para dizer que ele deverá assumir as conseqüências de suas decisões equivocadas.

4) Quem não oferece o perdão torna-se vítima do próprio ódio. Quando não perdoamos, por mais prejuízos que possamos ter, o maior deles é viver mal consigo mesmo e com seus sentimentos. Pior ainda é alguém lhe pedir perdão e por orgulho ou superioridade você negar. Seja humilde, releve. Mas depois que perdoou, olhe para frente sem ficar remoendo o que aconteceu ou voltando ao assunto na primeira discussão.

5) As pessoas que nos amam sofrem quando não conseguimos perdoar, mesmo que não estejam envolvidas na situação. A fragilidade da saúde, o distanciamento, os maus sentimentos cultivados por quem vive preso a uma mágoa causa danos a quem compartilha a vida conosco.

6) O perdão tem seu preço. Quando o rei perdoou o servo, ele abdicou de uma grande soma em dinheiro. Todo perdão exige que alguém tome sobre si algum tipo de prejuízo.

7) O perdão não livra automaticamente das conseqüências. Embora o servo tenha sido perdoado, isso não significa que ele pudesse agir de qualquer modo, nem que o rei voltaria a ser credor novamente. Uma coisa é o perdão, aquele sentimento de estar livre da mágoa que alguém lhe causou, outra é o nível de reconciliação que se permitirá, ou não.



Se eu não posso mudar o que aconteceu...

O perdão exige mudança de atitude. É preciso reformular, ver algo sob uma nova luz. Enquanto continuarmos presos às magoas que nos causam, jamais seremos capazes de superá-las. A parábola que Jesus contou fornece-nos algumas pistas pelas quais trilhar se desejamos experimentar o perdão libertador:

Saiba exatamente como você se sente sobre o que ocorreu para ser capaz de expressar o que há de errado na situação. Havia uma dívida, este era um fato. O problema é que o servo do rei tomou a pequena dívida em termos pessoais a ponto de agir com extrema ira com o seu devedor, esquecendo-se do perdão maior que recebera há pouco.
Comprometa consigo mesmo a fazer o que for preciso para se sentir melhor. O homem achava que se sentiria melhor colocando o devedor na cadeia, fazendo-o sofrer. A vingança não é capaz de produzir alívio. O perdão deve encontrar espaço porque é importante para você.
Entenda seu objetivo. Perdoar não significa necessariamente reconciliar-se com a pessoa que o perturbou, nem se tornar cúmplice dela. O rei ao perdoar o servo não disse que continuaria sendo credor do mesmo.
Tenha uma perspectiva correta dos acontecimentos. Reconheça seus sentimentos, foque-os no problema e não nas pessoas. Ao lançar o devedor na cadeia, este ficaria impossibilitado de trabalhar e, portanto, de saldar a dívida. O devedor ficaria preso e o credor continuaria preso aos maus sentimentos que nutria por conta da dívida.
Quando você se sentir aflito, aprenda a controlar o estresse. Focalize em Jesus, Ele perdoou você muito mais do que qualquer mágoa que alguém lhe tenha causado, a ponto de entregar-Se à morte de cruz por você.
Não espere dos outros, coisas ou ações que elas não escolheram ou não podem dar a você. Lembre a si mesmo que você pode esperar saúde, amizade e prosperidade e se esforçar para consegui-los. Porém você sofrerá se exigir que essas coisas aconteçam quando você não tem o poder de fazê-las acontecer. O devedor não tinha como pagar seu débito. Ao invés de focar no perdão recebido há pouco, o homem deixou que sentimentos de ira e avareza dominassem sua vida.
Ao invés de escrever a história de suas mágoas, comece reeditando sua vida a partir da experiência libertadora do perdão. Alguém me feriu, mas pelo amor de Deus, pelo meu amor a mim e pelo amor aos outros, no poder daquele que é Amor, você será capaz de perdoar. Um bom caminho é começar orando a cada dia para que Deus lhe dê poder para perdoar o seu ofensor.
É claro que em algum momento alguém já lhe machucou. Talvez você ainda não tenha conseguido superar tal situação. O que Jesus ensina por meio desta parábola não é somente que você deve perdoar, mas que Ele lhe dará forças para isso. O Seu perdão deve ser o ponto de partida para que finalmente você tenha essa experiência libertadora em sua vida. Seus relacionamentos agradecerão!

“Ao causar um dano ao seu inimigo, você se torna inferior a ele; ao se vingar dele, você se iguala a ele; ao perdoá-lo, você se torna superior a ele.” Benjamin Franklin.

Pr. Willian Oliveira

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