Lenda do Tsuru
"Era uma vez um camponês muito pobre. Vivia em
uma cabana tosca e seu único alimento eram algumas verduras que colhia de sua
terra cansada. Um dia, ele encontrou uma garça machucada, com a asa destroçada.
Por isso ela não podia voar e buscar alimento: isto a deixou muito fraca, à
beira da morte.
O camponês teve pena da garça, cuidou de sua
asinha e pacientemente colocou em seu bico algumas sementes. Sua bondade a
livrou da morte e quando ela pôde voar, o camponês a soltou.
Alguns dias depois, uma mulher adorável
apareceu em sua casa e pediu que lhe desse abrigo por uma noite.
O camponês, por ser bom, não negaria esta
caridade a qualquer pessoa, mas a beleza da mulher fez com que ele acreditasse
que deixá-la dormir em sua pobre cabana era realmente uma honra. Os dois se
apaixonaram e se casaram.
A noiva era delicada, atenciosa e tinha tanta
disposição para o trabalho quanto era bonita, e assim eles viviam muito felizes.
Mas para o camponês, que já tinha muita dificuldade em viver sozinho, ficou
muito difícil cobrir as despesas que sua nova vida de casado lhe trazia.
Preocupada com esta situação, a esposa disse ao
marido que produziria um tecido especial (tecer era um trabalho comum para as
mulheres nessa época). Ele poderia vendê-lo para ganhar dinheiro, mas ela
alertou que precisaria fazer seu trabalho em segredo, e que ninguém, nem mesmo
ele, seu marido, poderia vê-la tecer.
O homem construiu uma outra pequena cabana nos
fundos de sua casa e lá ela trabalhou, trancada, durante três dias. O marido só
ouvia o som do tear batendo, e a curiosidade e a saudade que tinha de sua bela
mulher fazia com que estes dias demorassem muito para passar.
Quando o som de tecelagem parou, ela saiu com
um tecido muito bonito, de textura delicada, brilhante e com desenhos exóticos.
A tecelã lhe deu o nome de “mil penas de Tsuru”.
Ele levou o tecido para a cidade. Os
comerciantes ficaram surpreendidos e lutaram entre si para consegui-lo. O
vendedor pagou com muitas moedas de ouro por ele. O pobre homem não podia
acreditar que tão de repente a sorte começasse a lhe sorrir.
Desde então, a esposa passou a trabalhar no
valioso tecido outras vezes. O casal podia, com o fruto da venda, viver em
conforto. A mulher, porém, tornava-se dia após dia mais magra.
Um dia, ela disse que não poderia tecer por um
bom tempo. Ela estava muito cansada. Seus ossos lhe doíam e a fraqueza quase a
impedia de ficar em pé.
O camponês a amava muito e acreditava naquilo
que ela dizia, porém tinha experimentado a cobiça e, como havia contraído
algumas dívidas na cidade, pediu para que ela tecesse somente por mais uma vez.
No princípio ela não a ceitou, mas perante a insistência do marido, cedeu e
começou a tecer novamente.
Desta vez ela não saiu no terceiro dia, como
era de costume. E o homem ficou preocupado. Mais três dias se passaram sem que
ela aparecesse. E isso começou a deixar o marido desesperado.
No sétimo dia, sem saber mais o que fazer, ele
quebrou sua promessa, espiando o serviço de tecelagem que ela fazia.
Para a sua surpresa, não era sua mulher que
estava tecendo. Arqueada sobre o tear encontrava-se uma garça, muito parecida
com aquela que o camponês havia curado.
O homem mal pôde dormir à noite, pensando o que
teria acontecido com a mulher que amava. Amaldiçoava-se por ter sido insaciável
e praticamente ter obrigado a sua querida esposa a tecer mais uma vez.
Na manhã seguinte, a porta da cabaninha se
abriu e o camponês com o coração aos saltos fixou seus olhos na porta,
esperançoso em ver sua esposa sair dela com vida.
A mulher saiu da cabana com profundas olheiras,
trazendo o último tecido nas mãos trêmulas. Entregou-o para o marido e disse:
Agora preciso voltar, você viu minha verdadeira forma, assim eu não posso ficar
mais com você!
Então, ela se transformou em uma garça e voou,
deixando o camponês em lágrimas."
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