quarta-feira, 13 de junho de 2012


Como destruir silenciosamente o seu relacionamento amoroso

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Algo tão tóxico quanto perder os detalhes sutis do relacionamento amoroso é algo que chamo de contabilidade emocional perversa.
Sempre medindo tudo
Não conheço pessoa ou casal que não faça isso. É aquele cálculo, até inconsciente, que você e eu somos flagrados fazendo a cada coisa que damos e recebemos dos outros.
É um inferno silencioso que nos queima sem que notemos e que derruba a estrutura de um relacionamento.
A fantasia de que tudo que damos temos que receber em troca e que tudo que recebemos temos que dar de volta. Como numa balança emocional que precisa ser sustentada a cada minuto usamos daquela ideia de “fazer ao outro o que gostaria que o outro te fizesse”. Pegamos a regra de ouro e a transformamos numa espada colocada no pescoço dos outros: “é bom você fazer para mim aquilo que eu fiz para você.”
Essa ideia de reciprocidade é leviana porque em essência quando fazemos algo generoso isso por si só bastaria. O amor é algo que se faz por escolha. Ponto final, sem mais.
Mas o que acontece nos relacionamentos é algo do tipo: “peguei um copo d’água para você que tal pegar um pra mim agora?”, “eu coço suas costas, coça a minha?”
Não é explicito e nem falado, mas é algo que se cria nas entrelinhas, quase como um código de honra que todos se sentem constrangidos a cumprir. Se eu visito você em sua casa você deve me visitar na minha. Se você vem almoçar em minha casa a meu convite deve trazer a sobremesa para não vir de mãos abanando. Muito diriam que isso é uma regra de etiqueta, é óbvio não? Eu não acho nada nessa vida óbvio. Se chamo um amigo para vir em casa eu quero meu amigo em casa e ponto final, pouco me importa a sobremesa. Muitos concordam comigo, mas bastaria o amigo se despedir para vir um sentimento de que faltou ele trazer algo para recompensar o convite.
Festas de casamento são assim, os noivos gastam uma fortuna para fazer o casório, como recompensa esperam receber bons presentes. Não que os presentes não possam vir, mas não como uma obrigação silenciosa implícita, mas como um ato espontâneo. E se o melhor amigo está sem grana deve ser recusado como padrinho? Por favor, meu amigo, não faça mais dívidas em meu nome, amo você assim, nu em pêlo. Será que somos capazes disso?
O ponto é que essa espiral de trocas “positivas” entre os pombinhos começa a minar o tecido da relação. Nem sempre queremos retribuir a massagem no pé ou a gentileza. E tudo bem. Alguns podem abusar desse desequilíbrio. Quando uma das partes quer oferecer algo de si a outra tem que dar de volta para não ser chamada de egoísta?
Na vingança o princípio da reciprocidade também come solto. Se um pisou na bola o outro parece que precisa devolver o coice. Pra quê?
Sério, pra quê?
Tem caras que dizem que traem a mulher caso ele corra o risco de já estar sendo traído ou só pra garantir. Fala sério!
O ponto central é que precisamo nivelar as oferendas que damos e recebemos. A tal ponto que vira aquelas brigas de mulher onde uma puxa o rabo de cavalo da outra e ambas estão rastejando no chão.
Não vejo onde isso pode nos levar.
Se você quer oferecer algo para alguém, apenas ofereça.
Se recebeu algo, apenas receba, sem culpa ou constrangimento.
Se me deu, me deu, se eu te dei, está dado. Sem cobranças, sem lembranças e sem carta de agradecimento ou recomendação.
Isso vale para os pais e filhos.
O que chamamos de bom tom, carrega ainda uma alta carga de cobrança piegas.
Amor não tem pedágio. Pelo menos é o que penso

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